Produção Textual em Foco

Nos últimos dias tenho corrigido textos de gentes de várias partes do país que estão se preparando para concursos bem distintos: Escola de Sargentos das Armas, Escola Preparatória de Cadetes do Exército, Instituto Militar de Engenharia, Instituto Tecnológico da Aeronáutica, vestibular da FUVEST, da Unicamp, concurso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Polícia Federal, entre outros que não me recordo agora.

Muitas dessas pessoas compartilham comigo seus sonhos e anseios: têm em comum a vontade de estar numa instituição que ofereça formação de qualidade, de aproveitar as oportunidades de intercâmbios no exterior, de conseguir um emprego estável; além disso, me demonstram – com razão – preocupação crescente com o nível cada vez mais exigente das bancas corretoras.

Eu já estava pensando em escrever sobre isso em algum momento, no entanto, nesta semana um aluno de um curso presencial me fez a sugestão: “mestre, escreve alguma coisa sobre fazer um bom argumento e bota lá no seu blog!”

 Respondi que aceitaria a ideia dada e aí está:

COMO REDIGIR ARGUMENTOS CONSISTENTES?

Antes de tudo, vamos pensar no que é argumento, segundo qualquer dicionário: argumento é “raciocínio por meio do qual se prova, refuta ou justifica algo”. Costumo dizer aos meus alunos que, por sermos seres pensantes, é sempre bom refletir sobre o que se vê, o que se lê, o que se vive. Ora, a partir da definição, conclui-se facilmente que, se o argumento prova, nega ou justifica o que se quer, não demora muito deduzir que, de fato, a tarefa dele é convencer, seduzir, levar o leitor/ouvinte a acreditar na validade daquilo que foi dito ou lido. Em outras palavras, o argumento é de fundamental importância para que uma ideia seja considerada e, por conseguinte, aceita.

Após essa breve e esclarecedora visita ao dicionário, vamos a duas questões importantes que balizam a argumentação, podem fazer dela uma arte e, o mais importante, podem garantir a sua tão almejada aprovação.

I – Em minhas primeiras aulas sobre argumentação digo aos candidatos que, para entenderem o que é argumento, devem tão somente olhar para as diversas situações de comunicação do dia a dia, para suas próprias conversas diárias com seus circunstantes. É muito comum que, de vez em quando (ou de vez em sempre rs), a gente se depare com a necessidade de fundamentar uma opinião para que as pessoas que nos ouvem considerem de maneira efetiva o que se está dizendo. Perceba que, diante de qualquer questão um pouco mais polêmica, ácida ou espinhosa buscamos, de alguma forma, por meio do conhecimento de mundo (mesmo que empírico), justificativas adequadas para o ponto de vista que queremos defender, procurando dar porquês para nossas respostas aos questionamentos que, geralmente, surgem em uma conversa. Ou seja, o exercício básico para a redação argumentativa, portanto, já faz parte da rotina de todos nós que conversamos, debatemos, discutimos e partilhamos nossos pensamentos com as pessoas que conhecemos sobre fatos, notícias e experiências vivenciadas.

II – Quando se trata de elaborar textos argumentativos, há – pela própria natureza da dissertação argumentativa – um espaço maior para a fundamentação do ponto de vista que se pretende defender (num texto de quatro parágrafos, dois deles se dedicam ao desenvolvimento, por exemplo). No entanto, para que os argumentos não sejam inúteis – para que possam ser chamados de argumentos, na verdade –, o candidato precisa buscar, ao longo do período de preparação para o certame, informações, notícias, conteúdo que encha a sua “mochila cultural”; mais que isso, é preciso refletir sobre os conteúdos adquiridos, raciocinar sobre eles e, principalmente, fazer a si mesmo (a) perguntas como: o que eu acho sobre isso? Acho correto ou incorreto? Eu acho que isso é útil à sociedade? Por quê? Esses e outros questionamentos sobre o tema que está em análise ajudam a adquirir posicionamentos críticos, que é exatamente o que as bancas procuram verificar se os candidatos têm. Reitero: essa atitude reflexiva – produto da leitura, da pesquisa e do questionamento – é fundamental para que a redação esteja de acordo com o padrão exigido pelos concursos.

Resumindo o que escrevi, a argumentação – por escrito ou não – passa, necessariamente, pelo exercício de reflexão sobre fatos da vida, notícias, livros, filmes, séries etc. Ademais, sobre a questão I, quem nunca participou de uma calorosa discussão sobre um fato qualquer? Você pode ter conseguido convencer as pessoas de que seu posicionamento era o mais adequado; ou não. Porém, já terá exercitado sua argumentação oralmente. Sobre a questão II, perceba que os argumentos devem ser construídos, primeiramente, por meio de informações fora dos textos motivadores das propostas de produção textual. Ter cultura geral, refletir sobre os acontecimentos do Brasil e do mundo, ter sede de informações e ter consciência crítica sobre o livro que lê, o filme a que assiste, a série favorita; em especial, jamais aceitar verdades absolutas sem questioná-las. Só se devem aceitar as ideias que passem pelo crivo do nosso senso crítico e que por ele sejam consideradas válidas. Em minha experiência, essa prática de vida ajuda (e muito!) a produção de argumentos valorosos.

Redigir um texto dissertativo-argumentativo pressupõe estabelecer um elo entre a introdução e a conclusão, ou seja, começar o texto e saber o que se quer concluir dele; é a apresentação de forma adequada dos argumentos que irá garantir que o texto tenha início, meio e fim, com parágrafos interligados entre si e ordenados de maneira coesa e coerente. Não à toa, é o acervo de mundo, que o candidato acumulou ao longo de sua preparação, que irá convencer o avaliador da banca de que sua tese tem sustentação.

Não posso encerrar este texto sem dizer que é de vital importância que você compreenda que o ideal é criar um método próprio de redigir seus textos – originalidade, o nome disso –, respeitando, obviamente, os princípios que são balizados pela banca de seu concurso. Sou absolutamente avesso ao que se popularizou no meio concurseiro sob o apelido “redação caveirão”. Acho esse método detestável, sem tirar-lhe o mérito de “adestrar” os que querem uma fórmula fácil e engordurada de escrever um texto medíocre. Modelos de parágrafos não devem ser utilizados como “receita do sucesso”; deixo claro: reconheço que “redações nota 10” servem, sim, como exemplos para ministrar aulas e para perceber o que de bom esse e aquele candidato fizeram em suas respectivas provas e que podem (e devem!) ser compreendidos e estudados; mas jamais se deve incentivar a cópia pura e simples.

Se quiser saber mais sobre como produzir um bom texto para seu concurso, não deixe de mandar um contato!

Um grande abraço e muito sucesso!

Prof. Andre Ben Noach

Publicado por profandrebennoach

Professor de Língua Portuguesa, Produção Textual (Redação Oficial e Argumentativa) e Literaturas de Língua Portuguesa, é especialista em História da Literatura. Trabalha há mais de 15 anos preparando candidatos para provas de concursos públicos civis, militares e vestibulares. Escritor de ficção, materiais didáticos e de preparação para concursos de todos os níveis. Andre Ben Noach é casado e é pai de um filho.

Um comentário em “Produção Textual em Foco

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